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Em Busca da Beleza (6) - ZaunköniG - 21.10.2012 Em Busca da Beleza I Soam vãos, dolorido epicurista, Os versos teus, que a minha dor despreza; Já tive a alma sem descrença presa Desse teu sonho, que perturba a vista. Da Perfeição segui em vã conquista, Mas vi depressa, já sem a alma acesa, Que a própria idéia em nós dessa beleza Um infinito de nós mesmos dista. Nem à nossa alma definir podemos A Perfeição em cuja estrada a vida, Achando-a intérmina, a chorar perdemos. O mar tem fim, o céu talvez o tenha, Mas não a ânsia da Cousa indefinida Que o ser indefinida faz tamanha. Em Busca da Beleza II Nem defini-la, nem achá-la, a ela - A Beleza. No mundo não existe. Ai de quem coma alma inda mais triste Nos seres transitórios quer colhê-la! Acanhe-se a alma porque não conquiste Mais que o banal de cada cousa bela, Ou saiba que ao ardor de querer havê-la - À Perfeição - só a desgraça assiste. Só quem da vida bebeu todo o vinho, Dum trago ou não, mas sendo até o fundo, Sabe (mas sem remédio) o bom caminho; Conhece o tédio extremo da desgraça Que olha estupidamente o nauseabundo Cristal inútil da vazia taça. Em Busca da Beleza III Só que puder obter a estupidez Ou a loucura pode ser feliz. Buscar, querer, amar... tudo isto diz Perder, chorar, sofrer, vez após vez. A estupidez achou sempre o que quis Do círculo banal da sua avidez; Nunca aos loucos o engano se desfez Com quem um falso mundo seu condiz. Há dois males: verdade e aspiração, E há uma forma só de os saber males: É conhecê-los bem, saber que são Um o horror real, o outro o vazio - Horror não menos - dois como que vales Duma montanha que ninguém subiu. Em Busca da Beleza IV Leva-me longe, meu suspiro fundo, Além do que deseja e que começa, Lá muito longe, onde o viver se esqueça Das formas metafísicas do mundo. Aí que o meu sentir vago e profundo O seu lugar exterior conheça, Aí durma em fim, aí enfim faleça O cintilar do espírito fecundo. Aí . . . mas de que serve imaginar Regiões onde o sonho é verdadeiro Ou terras para o ser atormentar? É elevar demais a aspiração, E, falhando esse sonho derradeiro, Encontrar mais vazio o coração. Em Busca da Beleza V Braços cruzados, sem pensar nem crer, Fiquemos pois sem mágoas nem desejos. Deixemos beijos, pois o que são beijos? A vida é só o esperar morrer. Longe da dor e longe do prazer, Conheçamos no sono os benfazejos Poderes únicos; sem urzes, brejos, A sua estrada sabe apetecer. C'roado de papoilas e trazendo Artes porque com sono tira sonhos, Venha Morfeu, que as almas envolvendo, Faça a felicidade ao mundo vir Num nada onde sentimo-nos risonhos Só de sentirmos nada já sentir. Em Busca da Beleza VI O sono - Oh, ilusão! - o sono? Quem Logrará esse vácuo ao qual aspira A alma que de aspirar em vão delira E já nem força para querer tem? Que sono apetecemos? O d'alguém Adormecido na feliz mentira Da sonolência vaga que nos tira Todo o sentir na qual a dor nos vem? Ilusão tudo! Querer um sono eterno, Um descanso, uma paz, não é senão O último anseio desesperado e vão. Perdido, resta o derradeiro inferno Do tédio intérmino, esse de já não Nem aspirar a ter aspiração. |