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Elogio da Morte (6) - ZaunköniG - 18.09.2010 Morrer é ser iniciado. Anthologia Grega. I Altas horas da noite, o Inconsciente Sacode-me com força, e accórdo em susto. Como se o esmagassem de repente, Assim me pára o coração robusto. Não que de larvas me povôe a mente Esse vacuo nocturno, mudo e augusto, Ou forceje a razão por que afugente Algum remorso, com que encara a custo... Nem phantasmas nocturnos visionarios, Nem desfilar de espectros mortuarios, Nem dentro de mim terror de Deus ou Sorte... Nada! o fundo dum poço, humido e morno, Um muro de silencio e treva em torno, E ao longe os passos sepulcraes da Morte. II Na floresta dos sonhos, dia a dia, Se interna meu dorido pensamento. Nas regiões do vago esquecimento Me conduz, passo a passo, a phantasia. Atravesso, no escuro, a nevoa fria D'um mundo estranho, que povôa o vento, E meu queixoso e incerto sentimento Só das visões da noite se confia. Que mysticos desejos me enlouquecem? Do Nirvâna os abysmos apparecem, A meus olhos, na muda immensidade! N'esta viagem pelo ermo espaço, Só busco o teu encontro e o teu abraço, Morte! irman do Amor e da Verdade! III Eu não sei quem tu és — mas não procuro (Tal é minha confiança) devassal-o. Basta sentir-te ao pé de mim, no escuro, Entre as fórmas da noite, com quem falo. Atravez do silencio frio e obscuro Teus passos vou seguindo, e, sem abalo, No cairel dos abysmos do Futuro Me inclino á tua voz, para sondal-o. Por ti me engolfo no nocturno mundo Das visões da região innominada, A ver se fixo o teu olhar profundo... Fixal-o, comprehendel-o, basta uma hora, Funerea Beatriz de mão gelada... Mas unica Beatriz consoladora! IV Longo tempo ignorei (mas que cegueira Me trazia este espirito ennublado!) Quem fosses tu, que andavas a meu lado, Noite e dia, impassivel companheira... Muitas vezes, é certo, na canceira, No tedio extremo d'um viver maguado, Para ti levantei o olhar turbado, Invocando-te, amiga derradeira... Mas não te amava então nem conhecia: Meu pensamento inerte nada lia Sobre essa muda fronte, austera e calma. Luz intima, afinal, alumiou-me... Filha do mesmo pae, já sei teu nome, Morte, irman coeterna da minha alma! V Que nome te darei, austera imagem, Que avisto já n'um angulo da estrada, Quando me desmaiava a alma prostrada Do cançaço e do tedio da viagem? Em teus olhos vê a turba uma voragem, Cobre o rosto e recúa apavorada... Mas eu confio em ti, sombra velada, E cuido perceber tua linguagem... Mais claros vejo, a cada passo, escritos, Filha da noite, os lemmas do Ideal, Nos teus olhos profundos sempre fitos... Dormirei no teu seio inalteravel, Na communhão da paz universal, Morte libertadora e inviolavel! VI Só quem teme o Não-ser é que se assusta Com teu vasto silencio mortuario, Noite sem fim, espaço solitario, Noite da Morte, tenebrosa e augusta... Eu não: minh'alma humilde mas robusta Entra crente em teu atrio funerario: Para os mais és um vacuo cinerario, A mim sorri-me a tua face adusta. A mim seduz-me a paz santa e ineffavel E o silencio sem par do Inalteravel, Que envolve o eterno amor no eterno luto. Talvez seja peccado procurar-te, Mas não sonhar comtigo e adorar-te, Não-ser, que és o Ser unico absoluto. |