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Tese e Antítese (2) - Druckversion

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Tese e Antítese (2) - ZaunköniG - 18.09.2010

I

Já não sei o que vale a nova idea,
Quando a vejo nas ruas desgrenhada,
Torva no aspecto, á luz da barricada,
Como bacchante após lubrica ceia...

Sanguinolento o olhar se lhe incendeia;
Respira fumo e fogo embriagada:
A deusa de alma vasta e socegada
Ei-la presa das furias de Medea!

Um seculo irritado e truculento
Chama á epilepsia pensamento,
Verbo ao estampido de pelouro e obuz...

Mas a idea é n'um mundo inalteravel,
N'um crystalino céo, que vive estavel...
Tu, pensamento, não és fogo, és luz!


II

N'um céo intemerato e crystalino
Póde habitar talvez um Deus distante,
Vendo passar em sonho cambiante
O Ser, como espectaculo divino.

Mas o homem, na terra onde o destino
O lançou, vive e agita-se incessante:
Enche o ar da terra o seu pulmão possante...
Cá da terra blasphema ou ergue um hymno...

A idea encarna em peitos que palpitam:
O seu pulsar são chamas que crepitam,
Paixões ardentes como vivos soes!

Combatei pois na terra arida e bruta,
Té que a revolva o remoinhar da lucta,
Té que a fecunde o sangue dos heroes!