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CAMPESINAS (9) - ZaunköniG - 13.05.2010 CAMPESINAS I Camponesa, camponesa, Ah! quem contigo vivesse Dia e noite e amanhecesse Ao sol da tua beleza. Quem livre, na natureza, Pelos campos se perdesse E apenas em ti só cresse E em nada mais, camponesa. Quem contigo andasse à toa Nas margens duma lagoa, Por vergéis e por desertos, Beijando-te o corpo airoso, Tão fresco e tão perfumoso, Cheirando a figos abertos. CAMPESINAS II De cabelos desmanchados, Tu, teus olhos luminosos Recordam-me uns saborosos E raros frutos de prados. Assim negros e quebrados, Profundos, grandes, formosos, Contêm fluidos vaporosos São como campos mondados. Quando soltas os cabelos Repletos de pesadelos E de perfumes de ervagens; Teus olhos, flor das violetas, Lembram certas uvas pretas Metidas entre folhagens. CAMPESINAS III As papoulas da saúde Trouxeram-te um ar mais novo, Ó bela filha do povo, Rosa aberta de virtude. Do campo viçoso e rude Regressas, como um renovo, E eu ao ver-te, os olhos movo De um modo que nunca pude. Bravo ao campo e bravo a seara Que deram-te a pele clara São rubores de alvorada. Que esses teus beijos agora Tenham sabores de amora E de romã estalada. CAMPESINAS IV Através das romãzeiras E dos pomares floridos Ouvem-se as vezes ruídos E bater d'asas ligeiras. São as aves forasteiras Que dos seus ninhos queridos Vêm dar ali os gemidos Das ilusões passageiras. Vêm sonhar leves quimeras, Idílios de primaveras, Contar os risos e os males. Vêm chorar um seio de ave Perdida pela suave Carícia verde dos vales. CAMPESINAS V De manhã tu vais ao gado A cantar entre as giestas, Com tuas graças modestas, Correndo e saltando o prado. E a veiga e o rio e o valado Que todos dormem as sestas Acordam-se ante as honestas Canções desse peito amado. As aves nos ares gozam, Entre abraços se desposam, No mais amoroso enlace. E as abelhas matutinas Que regressam das boninas Voam, te em torno da face. CAMPESINAS VI As uvas pretas em- cachos Dão agora nas latadas... Que lindo tom de alvoradas Na vinha, junto aos riachos. Este ano arados e sachos Deixaram terras lavradas, À espera das inflamadas Ondas do sol, como fachos. Veio o sol e fecundou-as, Deu-lhes vigor, enseivou-as, Tornou-as férteis de amor. Eis que as vinhas rebentaram E as uvas amaduraram, Sanguíneas, com sol na cor. CAMPESINAS VII Engrinaldada de rosas, Surge a manhã pitoresca... Que linda aquarela fresca Nas veigas deliciosas! Que bom gosto e perfumosas Frutas traz, madrigalesca A rapariga tudesca Que vem das searas cheirosas! Como os rios vão cantando, Em sons de prata, ondulando, Abaixo pelos marnéis! Que carícia nas verduras, Que vigor pelas culturas, Que de ouro pelos vergéis! CAMPESINAS VIII Orgulho das raparigas, Encanto ideal dos rapazes, Acendes crenças vivazes Com tuas belas cantigas. No louro ondear das espigas, Boca cheirosa a lilazes, Carne em polpa de ananases Lembras baladas antigas. Tens uns tons enevoados De castelos apagados Nas eras medievais. Falta-te o pajem na ameia Dedilhando, a lua cheia, O bandolim dos seus ais! CAMPESINAS IX NO CAMPO SANTO Morreste no campo um dia, Como uma flor desprezada. Clareava a madrugada Azul, vaporosa e fria. Sobre a agreste serrania, Numa ermida branqueada Por uma manhã doirada Um sino repercutia. Teu caixão, de camponesas E camponeses seguido, Desceu abaixo às devesas. Ganhou o atalho comprido De casas em correntezas E entrou num campo florido. |