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Vicente de Carvalho: Velho Tema (5) - ZaunköniG - 25.04.2010 Vicente de Carvalho 1866 – 1924 Brasilien Velho Tema I Só a leve esperança, em toda a vida, Disfarça a pena de viver, mais nada; Nem é mais a existência, resumida, Que uma grande esperança malograda. O eterno sonho da alma desterrada, Sonho que a traz ansiosa e embevecida, É uma hora feliz, sempre adiada E que não chega nunca em toda a vida. Essa felicidade que supomos, Árvore milagrosa que sonhamos Toda arreada de dourados pomos, Existe, sim: mas nós não a alcançamos Porque está sempre apenas onde a pomos E nunca a pomos onde nós estamos. II Eu cantarei de amor tão fortemente Com tal celeuma e com tamanhos brados Que afinal teus ouvidos, dominados, Hão de à força escutar quanto eu sustente. Quero que meu amor se te apresente - Não andrajoso e mendigando agrados, Mas tal como é: risonho e sem cuidados, Muito de altivo, um tanto de insolente. Nem ele mais a desejar se atreve Do que merece: eu te amo, o meu desejo Apenas cobra um bem que se me deve. Clamo, e não gemo; avanço, e não rastejo; E vou de olhos enxutos e alma leve À galharda conquista do te beijo. III Belas, airosas, pálidas, altivas, Como tu mesma, outras mulheres vejo: São rainhas, e segue-as num cortejo Extensa multidão de almas cativas. Tem a alvura do mármore; lascivas Formas; os lábios feitos para o beijo; E indiferente e desdenhoso as vejo Belas, airosas, pálidas, altivas... Por quê? Porque lhes falta a todas elas, Mesmo às que são mais puras e mais belas, Um detalhe sutil, um quase nada: Falta-lhes a paixão que em mim te exalta, E entre os encantos de que brilham, falta O vago encanto da mulher armada. IV Eu não espero o bem que mais desejo: Sou condenado, e disso convencido; Vossas palavras, com que sou punido, São penas verdades de sobejo. O que dizeis é mal muito sabido, Pois nem se esconde nem procura ensejo, E anda à vista naquilo que mais vejo: Em vosso olhar, severo ou distraído. Tudo quanto afirmais eu mesmo alego: Ao meu amor desamparado e triste Toda a esperança de alcançar-vos nego. Digo-lhe quanto sei, mas ele insiste; Conto-lhe o mal que vejo, e ele que é cego Põe-se a sonhar o bem que não existe. V "Alma serena e casta, que eu persigo Com o meu sonho de amo e de pecado, Abençoado seja, abençoado O rigor que te salva e é meu castigo. Assim desvies sempre do meu lado Os teus olhos; nem ouças o que eu digo; E assim possa morrer, morrer comigo, Este amor criminoso e condenado. Sê sempre pura! Eu com denodo enjeito Uma ventura obtida com teu dano, Bem meu que de teus males fosse feito." Assim penso, assim quero, assim me engano... Como se não sentisse que em meu peito Pulsa o covarde coração humano. |